(Jornal Extremo Sul)
Hoje é quinta-feira e esgotou o prazo para fazer minha inscrição na 2ª etapa do Circuito Gaúcho de Surf. Esperei até o último momento para, finalmente, decidir que iria desistir. Uma série de motivos me fez pensar muito no assunto nas últimas duas semanas: o compromisso (informal) que tenho com as empresas que me dão apoio, o prazer que tenho de participar de competições e, principalmente, a necessidade de defender o meu título de atual campeão gaúcho da categoria master (como este ano só haverá um descarte, eu ainda estava no jogo, mesmo não tendo participado da primeira etapa).
Ocorre que estou sem tesão. Não que eu tenha cansado de participar das competições. Nada disso. Na verdade, estou sedento por sentir aquela sensação de euforia misturada com um pouco de ansiedade e nervosismo que toma conta de mim durante uma bateria de campeonato. O problema é que não estou com a menor vontade de participar do que estão me oferecendo. Um circuito estadual sem o menor apelo. Sem divulgação adequada. Sem importância. Com uma premiação desconhecida. Com datas que são alteradas a todo o momento (mas permanecendo nos meses mais frios). Enfim, um circuito sem o menor glamour.
É claro que este é o ponto de vista de quem não tem mais a menor necessidade de competir. De quem já participou de alguns dos maiores eventos de surf que este país já viu. Mas, acima de tudo, de quem ainda gostaria de poder viver a alegria de competir em campeonatos de surf sérios, organizados por quem está interessado em botar o surf pra cima. Eventos que fazem surgir novos valores – tanto no lado dos competidores quanto no da organização.
Fico pensando nos atletas jovens, que estão iniciando suas carreiras. Fico pensando nos coitados que se aventuraram até os confins do Estado na primeira etapa, enfrentando um clima congelante e despesas salgadas para, no fim do evento, ouvir da organização que a premiação seria entregue somente na segunda etapa. Bem, a segunda etapa chegou. O que acontecerá em Salinas? Sinceramente torço para que tudo corra bem. As previsões de tempo, vento e ondulação estão muito boas e mostram que o final de semana será de sol, clima ameno e pouco vento, além de ondas de 1 metro. Tomara que a organização faça a parte dela e cumpra com suas obrigações, não só oferecendo uma boa estrutura para os atletas, mas, também (e finalmente), entregando a premiação que está em atraso – e, claro, a desta etapa também.
Isso tudo me leva a refletir e tentar buscar uma resposta, que na verdade tenho dificuldade de encontrar. O que se passa na cabeça do presidente da FGS? Por que, apesar dos inúmeros apelos que fiz – pessoalmente e via e-mails – ele não me responde? Por que, apesar das inúmeras vezes em que me ofereci para colaborar, ele nunca chamou a mim nem a nenhum dos membros do Conselho. Aliás, para que serve um conselho que nunca é convocado?
Aí a gente vai fazendo as comparações. Enquanto os surfistas morrem presos em redes aqui no Estado, sem que nada seja feito (as tão faladas placas ficam só na promessa e, de qualquer forma, são paliativas – quem vive o surf há anos sabe que esta não é a solução), em Santa Catarina, a Federação de Surf consegue um convênio médico para seus atletas filiados. Enquanto vamos para a segunda etapa do nosso circuito estadual, que mal consegue premiar seus campeões, no Estado vizinho já vão a mil os preparativos para a etapa do WCT. Enquanto estamos lutando para termos um campeão profissional estadual, eles seguem na liderança do brasileiro amador. Enquanto olhamos com nostalgia para o período em que tínhamos um gaúcho no WCT, eles estão com um time de primeira arrebentando no WQS. E por aí vai...
Amigos, os (bons) resultados que a Federação Catarinense vem mostrando, tanto no campo competitivo quanto no administrativo, são fruto de muito trabalho. De muito suor. De muita dedicação. Mas, sem sombra de dúvida, é o resultado de um trabalho feito em equipe e planejado. Ele não começou ontem e não foi feito por apenas uma pessoa.
E antes que alguém argumente que as ondas são melhores em Santa Catarina, eu aviso: uma coisa não tem nada a ver com a outra. A qualidade das ondas não determina o resultado do trabalho fora d’água. Se, por um lado realmente não há comparação entre a qualidade das nossas ondas e as deles, por outro, também não há comparação entre o PIB Gaúcho e o Catarinense. O Gaúcho é muito maior. E, cá entre nós: quem determina a qualidade do trabalho executado for a d’água é o dinheiro e não as ondas.
É incrível que a equipe que está à frente da FGS hoje não se toque que é necessário fazer um trabalho de base. E não estou falando de competições. Estou falando de administração. É preciso organizar a entidade do ponto de vista administrativo. É preciso criar uma sede com telefone, fax, secretária para atender este telefone e receber os fax, bem como anotar os recados e esclarecer dúvidas de quem procura por informações – e incluo a imprensa aí. É preciso criar uma newsletter para ser enviada para um cadastro (que já deveria ter sido criado. Eu, particularmente, preenchi inúmeras vezes fichas e mais fichas com informações pessoais). É preciso colocar no ar, urgente, um site com informações básicas, comunicados à imprensa e filiados, que ofereça a facilidade de se fazer inscrições em eventos on-line, que sirva como agente captador de patrocínios para todo o tipo de evento (cultural, educativo e competições).
E é claro que para gerenciar todo este processo é necessária a figura de um manager, um sujeito que até pode ser o próprio presidente, não importa. O que importa, isto sim, é que ele deve se dedicar full-time ao ofício. E, para tanto, deve ser remunerado.
Ilusão? Viagem? Acredito que não. Dinheiro há no mercado. O produto surf é um dos mais valorizados. Surfistas que são empresários de empresas importantes ou que são pessoas influentes na sociedade gaúcha há aos montes. Basta que apareçam as pessoas certas, com bom projeto e planejamento. E o mais importante: que tenham credibilidade junto àquelas pessoas que citei acima. Pronto! O processo acontece ao natural.
Assim, caro leitor (voltando ao ponto em que iniciei a coluna), cheguei à seguinte conclusão: a previsão está indicando que será um final de semana de altas ondas. Quer saber? Vou pra minha praia, cair no mar bem tranqüilo, sem correria de bateria, sem ter que vestir long molhado, perto da minha mulher e da minha filha e, se tudo correr bem, surfar horas a fio sem ter a obrigação de sair do mar depois de 15 minutos.
Na verdade, estou contando as horas, os minutos. Estou louco que chegue sábado de uma vez, pois a vontade de surfar jamais vai diminuir. O tesão pelo surfe parece aumentar em mim à medida que os anos se passam. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre as competições. Quem sabe um dia elas voltem a me atrair. Do jeito que está, não tem jeito: não há tesão!
Em tempo: o assunto “Morte de surfistas em redes” está, conforme eu havia previsto, sumindo. Já não se fala mais em placas, leis, demarcação de área, etc., etc., etc. O ciclo está chegando ao seu final. Nunca torci tanto para estar errado, mas ciclos são ciclos. Se um está terminando…
Deus nos ajude.