sexta-feira, 15 de abril de 2005

Bom comportamento

Por Eduardo "Gringo" Patussi
Onda psicodélica em algum lugar

Na Páscoa de 2004 fiz uma viagem solo, sem me preocupar com outra coisa qualquer que não fosse surf e aproveitar os momentos de intervalo para refletir sobre minha vida, carreira, futuro...

Escolhi o extremo norte do Perú (ainda não conhecia a região e as ondas no Perú são realmente muito boas).

Alguns amigos já haviam me contado das vantagens de viajar só: horários, direções e outras opções: ninguém para opinar ou contrariar (nunca tive problemas em dividir ou aceitar opiniões, mas é interessante a experiência). Só que estas vantagens já me eram familiares e o que mais me impressionaou na experiência, foram outras que acabei descobrindo.

Várias vezes quando chegava em um lugar, precisava avaliar a melhor maneira de entrar no mar, observar os outros surfistas, contar as séries (perde-se um tempinho, mas aprende-se muito), às vezes optar pela maneira mais difícil porém mais segura, às vezes arriscar por uma situação mais perigosa mas com menor esforço, e às vezes perguntar para os outros sobre a melhor maneira de entrar e sair do mar, ou seja, acertar e errar sózinho, aprender a avaliar a situação.

Mas o que me impressionou mesmo foi a receptividade na água (muito diferente de quando chega-se num grupo de três, quatro ou mais). Chegava no outside e me colocava a uma distância respeitosa do pequeno (às vezes ) crowd e aos poucos - e sem pressa - ia chegando mais próximo. Imediatamente cumprimentava os demais e todos, quando possível - afinal era eu quem acabava de chegar.

Para minha surpresa em várias ocasiões fui abordado para uma conversa amigável e às vezes com um aceno convidando-me a me aproximar mais e literalmente dividir as séries. Algum desavisado ira pensar: "pô o cara fica na beirinha"... Mas não. Estou falando de point break, remadão até o "line up", séries demoradas, ondas grandes (pelo menos para nossos padrões) e longas, muito longas. Geralmente o assunto era "de onde vens", "estas só" (com ar de impressionado e respeito), etc...
Logo o assunto partia para a atitude: "onde aprendeste a encarar o pico dos outros desta maneira", etc...

As portas abriam-se ao natural, boa educação e cortesia respondidas na mesma moeda. E assim foi por todos os dias e locais da viagem. O que me fez criar um hábito (que nem sempre pratico, talvez por descuido) de cumprimentar as pessoas que já estão no mar quando chego e só chegar no pico após pegar algumas intermediárias, como também evitar de chegar com carro superlotado, pois assusta.

Sei que nesses tempos de crowd infernal nem sempre é possível cumprimentar todos (sob o risco de parecer político em campanha) ou chegar sózinho, e nem sempre é fácil chegar "no sapatinho" em nosso litoral, pois temos corrente, muitas vezes indefinição de picos, muita gente...
Ou ainda esperar a "fila" mas com certeza é o melhor para todos: o próprio recém chegado, o sujeito com cara de poucos amigos que já está ali, o sujeito que acha que todas as ondas são dele, o iniciante que insiste em ficar na frente na melhor do dia, o cara que sabe as manhas do pico, o outro que melhor preparado rema mais que golfinho, e os dentes da frente).

Um comentário:

Anônimo disse...

Como é gringo, quero saber se caiu em Pico Alto 15 pés plus ....