domingo, 21 de maio de 2006

Slow down

Recebo centenas de e-mails diariamente. A maior parte deles, e-mails de trabalho e muito pouco lixo, graças ao eficiente filtro anti-spam que tenho. Ainda assim, uma leva de porcaria consegue se infiltrar. São correntes de todo o tipo, mensagens de auto-ajuda, curiosidades e uma grande quantidade das irritantes apresentações de Power Point, cheias de efeitos, com letrinhas que entram girando, imagens que se fundem com outras, etc.

Ocorre que, às vezes, no meio desta miscelânea, aparece alguma coisa interessante. Por isso tenho o hábito de, quando não estou com tempo, guardar as mensagens que não são de trabalho, para ler mais tarde.

E graças a este hábito, encontrei a pérola que transcrevo abaixo. Quem me enviou não sabe quem é o autor, portanto caso você, que me lê, saiba quem é ele (ou ela), por favor, me envie o nome para que eu possa dar o devido crédito.

Por enquanto, classifiquemos como um belo texto, de autor desconhecido.

"ESCRITO POR UM BRASILEIRO QUE VIVE NA EUROPA

Já vai para 18 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui demora 2 anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e simples.

É regra. Então, nos processos globais, nós brasileiros, americanos, australianos, asiáticos) ficamos aflitos por
resultados imediatos, uma ansiedade generalizada. Porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito neste prazo.

Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações. E trabalham num esquema bem mais "slow down". O pior é constatar que, no final, acaba sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da tecnologia e da
necessidade: bem pouco se perde aqui.

E vejo assim:

1. O país é do tamanho de São Paulo;
2. O país tem 2 milhões de habitantes;
3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare com
Curitiba, que tem 2 milhões);
4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB,
Nokia, Nobel Biocare... Nada mal, não?
5. Para ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores para os
foguetes da NASA.

Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem estar errados, mas são eles que pagam nossos salários.

Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha mais cultura coletiva do que eles. Vou contar para vocês um breve relato só para dar noção.

A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manhã.
Era setembro, frio, nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei:

"Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio
e você deixa o carro lá no final." Ele me respondeu simples assim: "É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você não acha?"

Olha a minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira. Deu para rever bastante os meus conceitos.

Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association - cujo símbolo é um caracol, tem sua base na Itália (o site, é muito interessante. Veja-o!). O que o movimento Slow Food prega é que as pessoas devem comer e beber devagar,saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida em que o americano endeusificou.

A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week numa edição européia.
A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade de vida ou à
"qualidade do ser".

Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas(35 horas por semana) são mais produtivos que seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de
28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%.

Essa chamada "slow atitude" está chamando a atenção até dos americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já). Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem ter menor produtividade.
Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos "stress".
Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e concreto em contraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.
Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde seres humanos, felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.

Gostaria de que você pensasse um pouco sobre isso...

Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura?

Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde:

- "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos." - "Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango.
E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.

Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim.
Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe.

Tempo todo mundo tem, por igual! Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon, "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...

Parabéns por ter lido até o final!

Muitos não lerão esta mensagem até o final, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado.

Pense e reflita, até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família. De ficar com a pessoa amada, ir pescar no fim de semana ou outras coisas...
Poderá ser tarde demais!"

Weekend off

Não há como ficar triste de não ir à praia quando o visual é este: frio, fraco e fedorento!

Resolvi tirar este final de semana para pôr as coisas em ordem aqui em casa. Nada de surfe [é lógico que antes de tomar esta decisão dei uma consultada nas previsões]. Vou tentar atualizar minhas colunas, responder os e-mails pendentes e ler todas as revistas que estão a acumular-se numa pilha que não para de aumentar.

Ontem, ao acordar, olhei pela janela e deparei-me com o visual da foto acima. E mais: a temperatura despencando e uma chuvinha fininha caindo...
Mesmo assim, consultei - por via das dúvidas - as câmeras com fotos da praia e senti um alívio. Acertei na mosca! Ou melhor, as previsões estavam corretas e tomei a decisão certa. O visual do mar estava horrível.

Depois disto, eu não sabia nem por onde começar. Ler, escrever, ver TV, comer, curtir minhas gurias....ó dúvida, ó dor...

Não fosse pelo meu Colorado ter dado um vexame em pleno Beira-Rio, e eu poderia afirmar que está sendo um final de semana perfeito.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Que Mineirinho o quê!

Geralmente cantar de galo antes da hora também dá azar!
Que o diga o bodoso que se pôs a dar tiros no oponente jurando que a peleia
estava ganha. Menos, bodosão. Bem menos.


Terminou a terceira etapa do Circuito Mundial da ASP e, quem diria, não é o Mineirinho que está deixando todo mundo de queixo caído. Não senhores. É o outro. O outro cara que entrou junto com ele, só que com bem menos badalação.

Bobby Martinez, californiano, morador de Santa Barbara, criado no meio da latinada, por isto mesmo, consegue aliar qualidade e muita raça no seu surfe.

Enquanto o mundo e a maior parte dos brasileiros bobalhões previa um estrago no circuito mundial causado pelo fenômeno Adriano de Souza, Mr. Bob - que não é o esponja - ia fazendo o dele discretamente.

Em Gold Coast, o cara foi até a semi, assim como o nosso menino voador. Em Bells, deu "azar", ficou em nono, ou seja, perdeu nas oitavas. Em Teahupoo, o careca vacilou e ele levou.

Se isto não é de deixar qualquer um de queixo caído, então me corrijam!

E prestem atenção aos detalhes: em Gold Coast ele mostrou que sente-se à vontade nos beachbreaks inconsistentes. E no Tahiti, ele acaba de avisar: "sou completo! Saiam da minha frente!".

Afirmei aqui que tinha minhas dúvidas sobre o surf de fundo, do Mineirinho, em ondas consistentes, de fundo de pedra e coral. Pois bem, em Bell's e no Tahiti, ele acaba de mostrar que ainda tem muito que aprender e treinar. Aliás, coisa mais feia ver o menino dropando no rabinho. Mas os juízes da ASP não são bonzinhos. O guri quer ficar no rabo? Então tome 2,5 e 3 e 1,5 e 3,5....Credo! Isto é pontuação de ondas incompletas. De vacas! Mas acho que é bom assim. Vai fazer o guri pensar e repensar sua estratégia. A começar por considerar seriamente voltar a correr o WQS para se reclassificar.

E vejam bem. Não estou comemorando e muito menos desdenhando do surfe do guri. Não tenho dúvida de que a máxima de que ele "vai ser o primeiro campeão mundial brasileiro" ainda pode se confirmar. Só não acho que será agora. E não tenho dúvida de que isto jamais acontecerá se ele não fizer mudanças drásticas na forma de atacar a onda. Alguém deveria urgentemente apresenta-lo às bordas da sua prancha. Explicar à ele para que servem. Mostrar que um cutback também pode ser útil (mais do que estético) - aqui uma pausa para tripudiar mais um pouco: o Bob - que não é o esponja - deu aula de como se faz um cutback, no Tahiti. Além de entubar mais fundo do que qualquer um, aqueles cutbacks nas saídas de seus tubos, meus amigos.....de cair o queixo (ôpa, de novo!).

Então é isto: o Careca perdeu na semi porque se lesionou - dizem que nem vai competir em Fiji. Será? O cara é o herói das cozinheiras do hotel e sente-se em casa (lá também) em Restaurants...acho que ele não iria deixar o caminho aberto para o bodoso tentar uma reação e acho bom ele se cuidar com o Bob. Depois do que vimos em Teahupoo, Fiji vai ser um convite pro cara disparar na pontuação.

Quanto aos brasileiros, bem, quanto tempo mais teremos que esperar para ver o Neco de volta? Alguém aí me acorde quando o Neco chegar, ok?

sábado, 6 de maio de 2006

Impacto

Sandspit, na Califórnia, em foto do editorial da Surfing de maio de 2006.
O fotógrafo Rob Gilley conseguiu captar o clima do momento em que a "fila" está
a espera do
momento certo para "entrar no trem". Página dupla. P&B. Como
deveria ser, para causar impacto.
Quem é surfista, sente o clima.

Mas o que é que há com as revistas de surfe estrangeiras que de uma forma ou outra, sempre conseguem nos causar um impacto? Se este impacto não acontece já na capa, então é certo que no editorial ou em várias de suas páginas internas ele acontecerá.

Já publiquei aqui algumas destas imagens. Uma em especial, é tão absurda, que virou fundo de tela nos computadores da maioria dos meus amigos (no meu também).
Esta imagem foi capa de uma Surfing (coincidência?) e "apelidei-a" de "sonho".
Ilhas Carolina, Pacífico Sul. A Fluir já fez uma matéria neste lugar. Nenhuma das
fotos no entanto, chegou perto de causar o impacto que esta me causou...


E por favor, não me interpretem errado. Não tenho dúvida de que no Brasil temos ótimos jornalistas do surfe, ótimos fotógrafos e melhores ainda, surfistas.

Ocorre que por uma razão que não entendo, os diretores de arte e editores de fotografia das publicações nacionais parecem não saber fazer a "coisa encaixar".

Outro dia publiquei aqui um link para a revista Surfshot. Ela é dirigida por um brasileiro, mas por trás da "cara" da revista está um sujeito que era editor de arte da Surfing.

E não pensem que me refiro às revistas americanas somente. A qualidade da Surf Portugal e da Surf Europe, além da "bíblia" Tracks (para citar apenas algumas) está muito acima daquilo que temos à disposição no mercado brasileiro.
Esta saiu na Surf Portugal há um bom tempo.
Lembro que a legenda mencionava alguma coisa como "vale à pena perder
um dia de trabalho por um mar destes...". Você discorda?


Se alguém consegue entender o que acontece, por favor, me explique.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Surfe gelado

Walter Buarque, voando baixo numa esquerdinha prá lá de boa! Foto: Kim Buarque

O amigo Walter Buarque enviou estas fotos do surfezinho de hoje. Tá bom pra você? Pra mim está ótimo! O pico chama-se Aberavon (sul do País de Gales), na cidade de Port Talbot.
Segundo ele, quebram ondas de 2m clássico no outono.

Dá pra ver nesta foto, o prédio do Sports Centre,
onde o Walter trabalha como salva-vidas. Foto: Kim Buarque

Exceto pelo long, botas, luvas e gorro, eu diria que um mar destes em frente ao local de trabalho é igual a um sonho. A Kim, esposa do Walter, comentou que depois da última onda, ele leva exatos 3min. até o "escritório"...moleza!

Pelo botton turn, dá pra imaginar o que veio depois.
E depois. E depois. E depois. Foto: Kim Buarque.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Surfshot na telinha

Não precisa ficar curioso. Clica aqui e aproveita...

Muito incomodei o amigo Felipe Poli para dar um jeito de me enviar as revistas. Na última vez em que esteve aqui, o Poli me trouxe uma sacola com todas as edições desde o número um. Que fartura! Me diverti durante algum tempo...

Depois, conversamos longamente sobre a possibilidade dele começar a enviar a revista para uma lista de pessoas aqui no Brasil. E também conversamos sobre algumas tecnologias, na internet, que possibilitam ao usuário, folhear revistas e livros como se fosse a coisa real, de papel.

Pois bem, o cara foi lá e fez. Apresento para vocês a Revista Surfshot, todo mês, aqui. (a edição de Abril está aqui).

O Felipe é um daqueles brasileiros que nasceram no lugar errado. Ele é muito bom para ficar aqui, batendo de cabeça na parede. Foi lá no "olho do furacão". Do lado da Surfer e Surfing, se transformando numa pedra no sapato dos caras. E a receita dele é simples: competência, qualidade e o principal: percepção de mercado. O cara percebeu que a mídia deles estava concentrada num determinado lugar e esquecia do resto. Escolheu um lugar deste "resto", no caso San Diego, e virou dono do pedaço.

E vejam bem: San Diego não é pouca coisa em termos de surfe. A Rusty esta lá. A Reef também. Rob Machado é local da área e por aí vai.

É aquela estória: não quer, tem quem queira.

Aqui no Brasil, acontece uma situação muito parecida. A mídia está concentrada no sudeste e o resto está esquecido, relegado a matérias "especiais", de vez em quando.

Até surgir um Felipe Poli por aqui...

terça-feira, 2 de maio de 2006

Superman entubando

Monday Morning Wave | Photo: Scott Aichner

Diz a legenda: Superhomem vinha entubando fundo quando
percebeu uma foca perdida, clamando por socorro...

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