sábado, 4 de outubro de 2003

Surf seguro é praticado longe das redes

(e ao lado das plataformas)

Surfistas gaúchos vêm enfrentando o perigo de morrerem nas redes de pesca há vários anos sem que se encontre uma solução eficaz para o problema. Criaram-se leis determinando que as áreas para pesca e surf fossem demarcadas, mas a falta de fiscalização acabava comprometendo a idéia. Proibiu-se a pesca com redes nos meses da alta temporada, mas era justamente no inverno que as mortes aconteciam.

Finalmente, e infelizmente, apenas quando mais dois jovens morreram, em um mesmo final de semana, a comunidade do Surf resolveu dar um basta para este problema.
Um grupo de surfistas, entre eles dois advogados, um promotor, um ex-campeão de surf e um ex-dirigente, todos ainda praticantes do esporte, juntamente com a Federação Gaúcha de Surf , resolveu buscar uma alternativa para o que vinha sendo feito.

Após sucessivas reuniões onde foram analisadas todas as soluções possíveis, chegou-se a uma conclusão: os únicos lugares onde não há a possibilidade de existirem redes de pesca é nas praias rodeadas de morros, ao lado dos molhes e ao lado das plataformas de pesca.

As primeiras duas situações somente são encontradas em Torres e Cassino, lugares que oficialmente não apresentam nenhum registro de morte em redes de pesca. Na terceira situação, junto as plataformas de pesca, também não se tem notícia de morte em redes, mas existia um pequeno problema: leis municipais proibiam a prática do surf nestes locais.

Então a equipe jurídica da recém formada comissão começou a estudar uma maneira de mudar esta situação para que pudessemos buscar também estes “portos seguros” para a prática de nosso esporte. E encontrou-se uma saída: partindo do princípio de que jovens estavam sendo “empurrados em direção às redes de pesca” no momento em que não lhes era permitido ficarem próximos das plataformas, imaginamos que bastaría que se sugerísse um acordo para os presidentes dos clubes de pesca, que mantém estas plataformas, para tudo ficar resolvido.

Procuramos em primeiro lugar os responsáveis pela Plataforma de Atlântida, que imediatamente aceitaram o acordo, assinando-o no dia 19 de setembro passado.
Em breve, estaremos procurando os responsáveis pela Plataforma de Tramandaí e, logo depois, o pessoal de Cidreira. Como se trata de um acordo que procura dividir o espaço entre surfistas e pescadores e que, muito mais importante, busca preservar a vida de jovens, temos certeza que será muito bem recebido por ambos os clubes.

A solenidade do dia 13 de outubro marca o início desta nova fase na história das relações entre surfistas e pescadores. É um passo em direção a um mundo melhor, onde todos se respeitam e o principal: surfistas deixarão de morrer como peixes.
Veja abaixo como vai funcionar o sistema acordado com a Plataforma de Atlântida (é uma reprodução do texto que está na placa afixada na entrada da Plataforma de Atlântida):


AVISO

Todas as sextas, sábados e domingos, será afixada uma bandeira
em um dos lados da plataforma para sinalizar o lado liberado
exclusivamente para a prática do surf. O lado oposto fica reservado
para a pesca, não sendo permitida a prática do surf.

De acordo com Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta
celebrado em 19/9/2002 entre a Associação dos Usuários da Plataforma Marítima de Atlântida
e a Federação Gaúcha de Surf, com o auxilio do Ministério Público Estadual e da
Secretaria de Justiça e Segurança Pública.

O não cumprimento deste Compromisso importará no pagamento de multa de
01 salário mínimo por dia de descumprimento, sem prejuízo das demais medidas cabíveis.”

terça-feira, 15 de abril de 2003

Voltei no tempo e fui até o fim do mundo

(ou como foram as coisas em São José do Norte, na terceira etapa do Circuito Gaúcho de Surf AM / 2003)

Quando fiquei sabendo que uma das oito etapas do Circuito Gaúcho Amador deste ano seria em São José do Norte, confesso que fiquei preocupado com o sucesso da empreitada. Mesmo sabendo que a cena surfística no extremo sul do estado está super forte e que no ano passado justamente esta foi uma das melhores etapas do Circuito, não pude deixar de lembrar que minha única experiência com o lugar não era das melhores.

Lembro vagamente a época: por volta de 1985 se não me engano. Inverno rigoroso. Acho que era julho e foi marcado um campeonato de surf no Cassino. Houve um deslocamento em massa para lá e tudo o que consigo me lembrar é que estava muito frio, o mar estava completamente flat e fomos recebidos como estrelas pela galera local. O patrocinador organizou festinhas, ofereceu a estadia e só. Competição que é bom, nada pois não haviam ondas!
A outra lembrança que tinha, era de um filme Super 8 feito pelo Bicudo e o George, surfistas das antigas de Imbé, que volta e meia buscavam alguns lugares "diferentes" para surfar. A onda que aparecia neste filme era uma direita longa, com meio metro mas perfeita, que passava pela câmera e seguia molhes abaixo. O lugar era São José do Norte e, segundo eles, tinha potencial, mas era de difícil acesso, completamente selvagem e muito frio, ou seja, roubada.

E foi com estas lembranças na cabeça que peguei a estrada em direção ao sul do estado. Também é preciso dizer que, além de todo o meu pessimismo ainda estava prevista a entrada de um swell monstro juntamente com uma frente fria daquelas! "Ai, ai, ai, é agora que vou me arrepender até o último fio de cabelo, pensei enquanto curtia a rápida mudança na paisagem, do amarelo queimado nas colinas que rodeiam Porto Alegre para o verde escuro das planícies mais ao sul do estado.
Apesar da distância, a viagem pareceu rápida e ao entardecer da sexta-feira, estavamos chegando em Rio Grande, onde fomos recebidos por André Carneiro, surfista local e um dos líderes da categoría Sênior do Circuito Gaúcho. Assim que chegamos André nos avisou que estava indo a um jantar "no leste", que é a maneira como os locais se referem a São José do Norte. Neste jantar, como viemos a saber mais tarde, foi assumido o compromisso por parte dos políticos locais de trazerem uma etapa do Circuito Brasileiro Supertrials ainda neste ano - provavelmente em outubro - para o Cassino.
Enquanto este jantar acontecia no leste, o irmão do "Broa", apelido de André Carneiro, nos levou para comer uma anchova, prato típico da tradicional "Festa do Mar", que estava acontecendo em Rio Grande.
Mais tarde, todos nos encontramos em casa. Junto com o Broa, chegou o "Boka", surfista e competidor das antigas de Rio Grande e que agora é vereador, já no seu segundo mandato - um dos mais votados na última eleição.

Sábado, primeiro dia de competição e o vento Minuano "a milhões". Frio glacial e muita espectativa no ar. Fui informado que o barquinho do "Seu Sadi", nos largaria perto da margem, mas ainda dentro dágua. Quase tive um filho. Lembrei a todos da minha idade e que já estava se instalando uma gripe neste velho Master. Apesar da gozação fui convincente na minha argumentação e fomos para o leste de balsa.
Ao chegar no pico, surpresa negativa: o palanque ainda estava sendo montado, o que me assustou, pois pelo horário, o evento já devería ter começado. Mas antes de investigar este tipo de assunto eu precisava ver o mar. Estava morrendo de curiosidade para ver como o tal swell monstro seria filtrado pelos molhes. E tive outra surpresa, desta vêz, agradável: encostado nas pedras dos molhes, protegidas do vento, corriam direitas perfeitas de um metro na série e o melhor: sem corrente. Provavelmente ali era o único lugar do estado com condições "civilizadas" de surf. "Ok, tem onda. Agora vamos ver o que está acontecendo que o palanque ainda está sendo montado", pensei. Que nada! Não tinha sido possível montar o segundo andar da estrutura devido aos fortes ventos. E a primeira bateria estava entrando nágua. O show estava começando.

No domingo o mar baixou um pouco (lá fora) e as ondas ficarm muito mais perfeitas nas pedras. Com o vento quase parado haviam momentos em que a comparação com a onda da Silveira era inevitável. O palanque agora estava montado com seus dois andares e o show de surf dentro dágua já havia recomeçado. Quem esteve lá não esquece a onda nota dez que o Márcio Ramos, campeão da Sênior, tirou na bateria final. Ele veio do outside até a beira, dando uma batida atrás da outra, emendando todas as manobras sem dar uma única acelerada ou picada com sua prancha. Perfeito. Nota dez!
Também não posso deixar de comentar o prazer de estar do outro lado, isto é, do lado de dentro. Na final da Master pude aproveitar a perfeição daquelas direitas. Me senti tão bem lá dentro que por alguns instantes esqueci que estava competindo. Pude enterrar de vêz a má impressão que tinha do lugar.

O que se viu nos dois dias de campeonato em São José do Norte foi um clima muito surf. A galera local está fissurada pelo esporte - tanto os surfistas quanto os simpatizantes. A cena local está muito desenvolvida. Patrocinadores, torcida, atletas, enfim, a área de Rio Grande já pode ser considerada um pólo de surf no estado. Da minha parte, posso dizer que voltarei para lá sempre que tiver oportunidade, pois o lugar é fantástico. Aliás, vale lembrar que a distância para se chegar ao molhe leste, partindo de Porto Alegre, é bem menor do que até a Silveira e a temporada de frentes de sul está chegando...

Um abraço

segunda-feira, 14 de abril de 2003

A desistência de Neco Padaratz

Muito tem se falado e analizado o que aconteceu recentemente com Neco Padaratz. Ele desistiu de competir na etapa do mundial WCT em Teahoopo, no Tahiti, por não ter conseguido superar o trauma que tem com o local desde que quase morreu afogado lá. O interessante do fato é que a notícia não foi dada através de um furo jornalístico. A notícia chegou à imprensa através de uma carta redigida pelo próprio Neco, prestando conta com todas as pessoas que torcem pelo surf brasileiro - e a própria imprensa.

Confesso que ao ler a carta me senti meio dividido. Em parte entendo o Neco.. Pensando como um sujeito de 39 anos de idade, com mulher e filha e que não tem mais compromisso nem com patrocinadores nem com ninguém a não ser consigo, entendo perfeitamente que o cara não queira - neste momento - arriscar a vida em um lugar onde já viveu um filme de terror.

Por outro lado, concordo que como brasileiro e torcedor do Neco, sinto-me frustrado. Penso que dos que estão correndo o WCT, o Neco é um dos poucos, senão o único brasileiro com capacidade real de tornar-se campeão mundial de surf. Não tanto pela qualidade do seu surf, mas muito mais porque neste jogo político em que o surf mundial também se transformou, ele é uma unanimidade entre os gringos. Ele é - ou era - respeitado há muito tempo tanto pela imprensa internacional quanto pelo corpo de juízes da ASP.

Acho natural que todos sintamos uma certa vergonha por termos que admitir que foi um dos nossos que puxou o bico, mas cansei de ler aqui e ali sobre gringos que se apavoraram na hora de enfrentar Waimea e outros picos de ondas grandes e também acabaram puxando o bico.

O problema é que o fato envolvendo o Neco toma proporcões maiores por ele ser brasileiro e porque ele teve a coragem - e respeito - de admitir publicamente, em carta destinada não só à imprensa mas também a todos nós, o seu problema.

É preciso que respeitemos o homem Charles por sua coragem de enfrentar o problema assim, com respeito pelos que torcem por ele. Se quisermos neste momento desistirmos do ídolo Neco, tudo bem, é justo. Ídolo é aquele sujeito que nos serve como espelho. Mas para mim, surfista de alma, do fundo do coração, passei a admira-lo mais ainda, pois em nenhum momento ele assinou contrato comigo ou com você, para estar dando satisfação desta maneira.

Tentem imaginar Andy Irons, Kelly Slater ou mesmo o malucão Tom Curren, ídolos de muitos, dando satisfação do que fazem ou deixam de fazer.

Respeito o Neco e o principal: continuo apostando minhas fichas nele.

sábado, 29 de março de 2003

Puerto Escondido

Foto: Arquivo Pessoal

Puerto Escondido, localizada no litoral oeste do México, no Estado de Oaxaca, tem pouco mais do que 45 mil habitantes. Destes, uma boa parte são estrangeiros que se estabeleceram e montaram seus negócios em Puerto. A maioria dos bares, restaurantes e hotéis à beira-mar são deles e, quando se caminha na ruazinha em frente ao pico (onde se passa 99% do tempo que não se está dentro d'água), a impressão é de estar numa espécie de "Babilônia" moderna, tamanha a diversidade de línguas que se ouve, razão pela qual os locais se vêem obrigados a saberem se comunicar através do inglês, que, às vêzes, chega a parecer a língua oficial do lugar. A subsistência da cidade vem basicamente do turismo e da pesca, mas devido ao seu rápido crescimento e localização estratégica, tem atraído algumas fábricas importantes – a Pepsi Cola acaba de se instalar lá. Puerto está localizada uns 500km ao sul de Acapulco e 100km ao norte de Huatulco, dois grandes pólos turísticos do país. Só há um vôo diário para lá, feito pela Mexicana/Aerocaribe, partindo da Cidade do México e com duração de uma hora.

A aparência da cidade lembra muito aquilo que se vê nos filmes de TV sobre o México. A arquitetura é típica e, as construções mais modernas, não fogem muito do estilo clássico. A zona freqüentada pelos turistas resume-se a um pequeno "centrinho", com uma rua lotada de restaurantes e pequenas lojas vendendo desde produtos do artesanato local até surfshops cheias de importados. Também há a rua à beira-mar, na praia de Zicatela, onde está situado o famoso "Beachbreak" – paraíso dos surfistas. Nesta rua, pode-se encontrar hotéis e restaurantes para todos os gostos e bolsos, além de vários cyber-cafés, casa de câmbio, lojinhas de moda-praia e surfshops. Bem no início da rua, convenientemente chamada "Calle del Morro" (Rua do Morro), está o Hotel Santa Fé, salgado para o bolso mas perfeito para os que não abrem mão de conforto. Seguindo em direção ao meio da praia, estão os outros hotéis (Arco-íris, Acuario e Ines) mais freqüentados pela galera, devido não só ao preço mais em conta, mas também porque estão localizados em frente ao pico. Além disso, todos eles têm piscina e alguns, como o Aquario, também oferecem o serviço de massagem que, dependendo de sua forma física, vai ser indispensável depois de alguns caldos bem fortes. E é exatamente ali que estão os points de encontro da galera: El Cafezito e El Viadero – dois restaurantes que, além de servirem ótimos "desayunos" (café da manhã), também oferecem um cardápio bem variado. Também é ali que à tardinha, por volta das 17h, aparecem os fotógrafos com o registro feito por eles do surf matinal. Atualmente existem três: Ruben Piña, Mike Levy e Miguel. Com estas três feras das lentes todas as manhãs a postos, é garantido que a sua melhor onda sempre será fotografada. E se realmente for uma boa onda, provavelmente será registrada pelos três com direito a fotos seqüenciais, pois todos usam motordrive em suas câmeras. Isto nem sempre é vantajoso, pois para garantir que no dia seguinte sua melhor onda não seja boicotada por nenhum deles, você se vê obrigado a comprar todas as fotos, o que pode significar um bom desfalque ao seu bolso. O valor médio de cada foto é US$ 2,5. Agora faça o cálculo, mas lembre-se de multiplicar por três fotógrafos: um bom tubo pode gerar umas 12 fotos. E não se esqueça de levar em consideração que a possibilidade de você pegar vários tubos bons numa mesma manhã é muito grande, ou seja, leve uma grana extra só para comprar fotos. E só para vocês terem idéia, eu comprei 45 fotos!

O clima em Puerto é tropical, ou seja, calor o ano inteiro. No inverno, de outubro à abril, a temperatura é agradável à noite, por volta de uns 20 a 22 graus, e durante o dia pode chegar aos 30. O engraçado é que a época das ondas em Puerto não é no inverno e sim no verão, que vai de maio à setembro. Nesta época, além de ondas que podem chegar fácil aos 18 pés, a temperatura não baixa de 30 graus nem à noite. E durante o dia, chega aos 40! Também é neste período que chove por lá, normalmente no final da tarde. O vento é um caso à parte. Todos os dias acontece exatamente a mesma coisa: amanhece terral e lá pelas 11h da manhã vira para maral. Dependendo da época do ano, à tardinha, o vento pode parar, proporcionando um final de tarde de boas ondas no Beachbreak.


Mas o surf em Puerto não se restringe ao Beachbreak. A distância de uma caminhada (ou US$ 2 de táxi) está um dos melhores point breaks do mundo: La Punta. Localizada no canto sul da praia de Zicatela, La Punta é uma esquerda longa e forte com diversas seções manobráveis. É a pedida certa para relaxar depois da adrenalina do Beachbreak na manhã. Mas também existem outras opções longe de Playa Zicatela. Ao norte, ainda em Puerto Escondido, há um pico chamado Carrizarillo, que é o paraíso das merrecas. Quando o mar está grande, nesta pequena baía quebram ótimas marolas de até um metro. Seguindo em direção ao norte, mais uns 50km, está Roca Blanca, um point break de direitas que, além de oferecer ótimas ondas, tem um visual deslumbrante. Só há um problema: é preciso um bom swell para Roca Blanca funcionar.

Em direção ao sul, há uma infinidade de beachbreaks até se chegar a Huatulco, uma espécie de "Acapulco miniatura" devido aos vários resorts e campos de golfe. É uma cidade linda, cheia de lugares pitorescos e praias maravilhosas, mas sem ondas. Na verdade, é alguns quilômetros ao sul de Huatulco que são encontradas as melhores ondas da região depois de Puerto Escondido: Barra de La Cruz. Point break de direitas longas e perfeitas que quebram quando há um swell de pelo menos 6 pés em Puerto. Voltada para o sudoeste, nesta baía o sol nasce no mar e se põe na terra. E isto é muito engraçado, considerando-se que no Pacífico o pôr-do-sol é no mar. Além deste pico, nesta região existem vários secrets escondidos entre as formações rochosas, caracteríticas da paisagem local.

DINHEIRO

No período em que estivemos em Puerto, a cotação do dólar em relação ao peso mexicano era de 10 para um, o que tornava fácil calcular o valor das coisas. Uma refeição custa em torno de US$ 6. Uma cerveja long neck ou um refrigerante, US$ 2, e uma diária num hotel, em torno de US$ 15 por pessoa (sem café da manhã). O transporte, quando necessário, é feito de táxi, que não possui taxímetro. Uma corrida do aeroporto até a beira da praia (onde estão os hotéis) custa US$ 3,5. Até o centro ou à Punta, US$ 2, e isto é tudo porque não há outros lugares para se ir em Puerto, a não ser que você queira visitar as zonas residenciais e afastadas do mar. Também há a possibilidade de você contratar um táxi para ir a Huatulco por US$ 30.

Equipamentos de surf são muito caros em Puerto. Aliás, isto merece um comentário. Você vende suas pranchas facilmente lá. E isto pode ser um ótimo negócio, uma vez que as pranchas levadas para Puerto dificilmente funcionariam aqui. Uma prancha usada, em bom estado, pode ser vendida em Puerto facilmente por US$ 160, exatamente o valor de uma prancha nova aqui. Além disso, suas bermudas, camisetas, bonés e até chinelos Havaianas são desejados pelos locais. Dá pra fazer a mala. Também é preciso comentar que a Mexicana/Aerocaribe, única empresa que voa para lá, cobra US$ 55 pelo pacote de pranchas. Isto significa que, caso você não venda todas suas pranchas, pagará um total de US$ 110 só para o transporte das mesmas.

Mas se você é daqueles que gostam de fazer "rancho" em freeshop, aproveite o tempo de espera pelo vôo para o Brasil, quando estiver no aeroporto da Cidade do México. Depois da reforma realizada em 99/2000, foi acrescentada uma nova ala internacional que deve ter um quilômetro só com freeshops. É uma ao lado da outra e me chamou a atenção que muitas delas são do tipo "qualquer coisa por US$ 10". É possível fazer boas barganhas. Mas não se engane: coisas típicas do México, como uma garrafa de Tequila por exemplo, são muito mais caras no freeshop.

Uma dica legal: quando estiver voltando, ao chegar no aeroporto da Cidade do México, não troque seus pesos por dólar. Vão lhe pagar muito pouco e nos freeshops da ala internacional é possível pagar suas compras com pesos, utilizando uma cotação mais interessante.

EQUIPAMENTO

Pranchas para surfar em Puerto Escondido são fáceis de fazer: tem que ter remada e, como o objetivo é o tubo, tem de ser grande e esticada. A fórmula é básica. Quanto antes você conseguir entrar na onda, mais controle e condições de colocar a prancha no trilho. O problema é quando o mar começa a baixar, ou quando você vai surfar em outros points. Minha sugestão é que você leve duas pranchas grandes para o Beachbreak – uma para surfar ondas de 8 pés plus e outra para surfar de 4 a 6 pés – e duas pranchas para surfar os outros picos – sua prancha do dia-a-dia e mais uma para quando o mar dá uma crescida. Para o meu uso, este quiver seria o seguinte: 6'0", 6'4", 7'0" e 7'6".

Uma bermuda e uma lycra dão conta do recado o ano inteiro – a não ser que você dê o azar que dei desta vez e encontre uma situação totalmente atípica: água e vento frios! Mas um short cavado teria resolvido o problema. Além disso, muito protetor solar. Cordinhas estão em baixa por lá. Além do pico ser muito próximo à praia, a cordinha pode ser a responsável por segurar sua prancha no local exato da guilhotina, numa vaca. Vi muitas pranchas quebrarem ao meio porque a cordinha as manteve na zona de impacto logo após um tubo sem sucesso. Eu usei direto, mas dei sorte. Não quebrei nenhuma.

A VIAGEM

A idéia de viajar para Puerto Escondido pela terceira vez surgiu para mim tão rápido como os tubos do Beachbreak. Meu amigo Toshio ligou dando a idéia na quarta-feira, e na quinta-feira seguinte estávamos embarcando. Mal tive tempo de providenciar as pranchas, arrumar as malas e despedir-me dos familiares. Quando vi, já era véspera da partida. No vôo de ida (11 horas somando-se o fuso de menos três), um filme foi passando na minha cabeça. Lembrei-me das outras vezes em que havia feito o mesmo caminho. Fiquei tentando imaginar o que me aguardava, pois eu tinha conhecido dois Puerto totalmente diferentes. Na primeira vez que fui, em 1987, era época de ondas: agosto. Fiquei lá 40 dias e peguei as maiores e melhores ondas da minha vida. La Punta quebrou todos os dias e, no melhor deles, com 10 pés. Tenho fotos minhas surfando no Beachbreak, ondas que parecem gigantescas se comparadas às da minha segunda viagem para Puerto, quando fui para passar o reveillon. Não era o período das ondas. Ao contrário da primeira ida, Puerto estava lotada de gente. O turismo havia invadido a cidade e, conseguir um quarto de hotel, havia se transformado numa tarefa de gincana. Dentro d'água não era diferente. Crowds intensas disputando ondas de, no máximo, 4 a 5 pés. Foi uma semana de merrecas, mas a minha maior decepção foi La Punta: totalmente adormecida.

Minha ansiedade crescia a cada hora naquele vôo. Mal podia esperar para chegar novamente em Puerto Escondido. O pior é que chegaríamos no México depois do vôo diário para lá, ou seja, teríamos que passar uma noite na Cidade do México antes de embarcarmos para o destino final.

PUERTO

A sensação de se chegar a Puerto Escondido é sempre igual: gruda-se os olhos na janela do avião e vai-se acompanhando o desenho do litoral mexicano todo recortado, tentando adivinhar se aquelas marcas de espuma são ondas de verdade ou só marolas quebrando. Depois, ao sair do avião, o choque térmico: calor e vento morno. No caminho para o hotel, avista-se o Beachbreak a distância, e o coração pula, porque sempre, por menor que esteja o mar, tem-se a impressão de que está enorme.

A partir daí, começava a rotina de Puerto que é sempre a mesma: dormir e acordar cedo. Normalmente, o surf durava do amanhecer até por volta das 11h, e aí íamos fazer o "desayuno". Após o café, que consistia em panquecas, ovos mexidos, frutas e suco de laranja, ou íamos checar a Internet ou ficávamos vagabundeando por ali, com os locais, pois outra vez La Punta estava adormecida.

Os locais merecem um comentário. Pela primeira vez, me entrosei com eles. Aliás, precisa ser dito que a quantidade, principalmente de bodyboarders, cresceu assustadoramente. E os caras estão arrebentando. Desde o veterano Roberto Salinas (que apesar de ser o único que não se mistura, é digno de crédito por arrepiar numa 5'9" com 30 anos de idade), até as jovens promessas como Oscar Moncada, com uma colocação para os tubos impressionante. Além destes, há o embaixador de Puerto, Carlos "Coco" Nogales. Coco, embora seja um surfista profissional totalmente bancado pela Hurley, é muito humilde. O cara é gente finíssima. Fazia questão de nos procurar, nos chamava para fazer as refeições com ele, nos deu presentes (entre eles, a revista Surfer cujo entrevistado do mês é ele), enfim, um amigaço. Mas não se engane. Ele também sabe ser agressivo com quem não lhe respeita. Apareceram alguns havaianos por lá, e ele tratou de mostrar suas garras. Tudo começou quando teve um problema com os irmãos Irons durante a passagem do Circuito Mundial pela Europa. Depois disso, Coco foi apedrejado pelos locais na saída de sua bateria no trials do Pipe Masters. A partir daí, os surfistas mexicanos, liderados por Coco, abriram guerra contra os havaianos.

Além destes, é preciso mencionar ainda Roger, um goofy footer que lembra o estilo de Gery Lopez ao surfar. Calmo, fala mansa, chega à beira da praia tranquilamente com sua esposa portuguesa e seu filhinho recém-nascido e monta seu guarda-sol. Quando entra n'água, domina o pico! Tem também o Chico. Brasileiro, mora há doze anos entre Puerto Escondido e Santa Cruz, na Califórnia. Também tem o Raul, primeiro mexicano a vencer uma etapa do WQS, na Venezuela. Este arrebenta. Quando você pensa que ele vai colocar para um tubo, ele dá na cara. Quando você pensa que a onda vai fechar, ele passa por dentro.
Também tivemos a companhia de outros brasileiros: o carioca Alexandre Acioly, local da Barra, e o paulista Rodrigo Moratelli, acompanhado de sua esposa, Milena, que estava grávida de cinco meses. Rodrigo foi o responsável pelo melhor e mais profundo tubo entre a galera brasileira. Os fotógrafos locais, que ganham a vida vendendo as fotos aos surfistas estrangeiros, fizeram a mala com o Rodrigo. Cada um deles (e são três) fez umas 12 fotos em seqüência deste tubo. Mas é uma lembrança que o Rodrigo certamente vai se orgulhar de mostrar para o filho que está chegando, quando ele estiver grandinho.

AS ONDAS

No dia em que chegamos, fomos avisados: o mar estava subindo e fazia dois meses que não entrava um swell decente. Ao acordar no dia seguinte, já dava pra ouvir, do quarto do hotel, o barulho das ondas quebrando no pico em frente. Ainda deitado na cama, a adrenalina começou a correr. Ao chegar à beira da praia, uma cena impressionante: uma série com 8 pés sólidos quebrando perfeita, abrindo para os dois lados. Já dentro d'água, ao remar para a primeira onda, surpresa: além de um backwash que eu nunca tinha visto em Puerto, havia uma corrente contra muito forte, e o resultado é que para entrar na onda era necessário uma remada muito mais forte do que o normal.

Mas o pior não era isso: a água, para surpresa de todos, inclusive dos mexicanos, estava gelada. Um short manga curta estava valendo ouro! Não estávamos acreditando no que acontecia, pois, além de estarmos passando frio, simplesmente nossas pranchas pareciam pequenas para as condições. Eu estava com uma 7 pés que parecia uma 6'4" no drop, e isto tornou muito difícil nossa adaptação às condições. Mas tudo bem, após muitos caldos, finalmente começaram a sair os "canudos" que tinhamos vindo buscar. Depois dos três dias grandes, a ondulação de norte começou a enfraquecer, e uma nova de sul, com água mais quente, começou a entrar.
Puerto começava a ficar do jeito que eu conhecia, com água morna e as ondas fechando um pouco mais, porém, pequenas. A vantagem desta frente de sul que entrou, além da água morna, é que todos os finais de tarde o vento parava, proporcionando um surf bem divertido. Como o mar seguiu baixando, chegou num tamanho que comecei a usar a 6 pés. Os tubos foram substituídos por manobras, e o crowd engrossou de vêz, pois como em qualquer lugar do mundo, quando as merrecas aparecem, junto com elas aparecem "novos" surfistas. De qualquer maneira, vale ressaltar que, se eu somar a esta a experiência das minhas outras duas viagens para lá, é possível afirmar que até nisto Puerto funciona como uma máquina: agosto, setembro e outubro é a época mais constante, com boas e grandes ondas. Novembro, dezembro e janeiro é o período da merrecagem, "bom para fazer turismo". E fevereiro, março e abril é quando o mar começa a crescer e aparecem as primeiras grandes ondulações. Agora está faltando eu ir para lá no trimestre maio/junho/julho para descobrir como é ...

HOSPITALIDADE

Os mexicanos tem uma simpatia muito grande pelos brasileiros, desde que ganhamos a Copa de 70 por lá. São muitas semelhanças entre nós: o gosto pelo futebol, a língua parecida, o sangue latino e o comportamento hospitaleiro, característico dos povos latinos. Ao contrário de muito pico aqui mesmo no Brasil, bastava identificar-me como brasileiro que já recebia um largo sorriso e a pergunta mais freqüente: "tienes tablas para viender?" Para ilustrar bem esta simpatia e hospitalidade, conto uma situação que vivi. Ao surfar uma direita pequena e longa, acelerei o que pude pois ela estava fechando um pouco. Com bastante velocidade, aproximei-me de uma junção no final da onda e comecei a ouvir gritos frenéticos – não do tipo que te dá força, mas sim avisando que havia alguém em baixo. Percebendo que tudo estava sob controle, fui para a manobra e a completei, passando muito perto do gritão, que era um mexicano forte e cabeludo, até meio mal encarado. O cara começou a me xingar e reclamar de mim naquele típico comportamento do local do pico que se ofende se um desconhecido passa perto demais. Eu simplesmente virei para ele e com um sorriso, pedi-lhe (em espanhol) que se acalmasse, inclusive apontando para o adesivo No Stress no bico da minha prancha. Quando se deu conta de que eu era brasileiro, o cara mudou completamente, baixou a voz e começou a conversar comigo numa boa! Apresentou-se, perguntou meu nome, pediu-me informações sobre o Brasil e, como não poderia deixar de ser, perguntou se eu tinha pranchas para vender. Ficamos amigos e até trouxe comigo o email do "pulpo" (polvo) para continuar mantendo contato. Num momento em que o clima estava super-hostil para os estrangeiros, os locais nos liberavam suas ondas pelo simples fato de sermos brasileiros. Inclusive no final de nossa estada por lá, já ficávamos junto com a turma de locais na beira da praia e fazíamos nossas refeições sentados na mesma mesa que eles.

Em Puerto, a regra do "repeite para ser respeitado" funciona. Mesmo sabendo da hospitalidade dos mexicanos, procuramos adotar uma postura de espera, aguardando que partisse deles o primeiro contato. Desde o início mostramos aos locais que estávamos cientes de que éramos visitantes e, como tal, iríamos seguir suas regras. Funcionou.

CONCLUSÃO

Por tudo o que está relatado acima, Puerto Escondido tem que ser incluida na lista de viagens de qualquer surfista. Tem ótimas ondas, é barato, é agradável, o clima é maravilhoso e o principal: você se sente em casa. Principalmente para nós surfistas gaúchos, acostumados aos nossos quebra-côcos, o "Pipeline Mexicano" é uma pós-graduação em tubos.

Boas ondas.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

Ainda em serviço

É isso aí: ainda estou em serviço!

Depois de ter vivido o auge da minha carreira competitiva no final dos anos 80, início dos 90, quando entre outros títulos destaco o de Campeão do Circuito Renner e o de vice campeão do Confronto RS x SC, volto a ter o prazer de ser patrocinado para fazer o que mais gosto: surfar.

Confiando na minha experiência como "tube rider" a No Stress resolveu bancar minha ida para Puerto Escondido, no México, também conhecida como "Pipeline Mexicano" devido ao seu violento quebra côco, capaz de proporcionar tubos comparáveis aos da famosa praia havaiana. O material fotográfico desta viagem servirá de motivo para futuros trabalhos promocionais da No Stress.

Embarco para o México nesta quinta-feira, dia 27 e ficarei lá até domingo, dia 09 de março.

Também é preciso dizer que esta viagem não aconteceria se não fosse a ajuda importantíssima da Tricoast Surfboards e de meu grande amigo Paulo Buarque.

Boas ondas.