segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Ditadura no surfe gaúcho

(Jornal Extremo Sul)

Para a maior parte dos leitores do Jornal Extremo Sul, a palavra ditadura remete às aulas de história no colégio. A maioria de vocês, nasceu quando o Brasil já se encaminhava para um clima de “diretas já”, Tancredo Neves, Collor, etc. Portanto, acusar o surfe gaúcho de estar vivendo uma ditadura deve parecer meio estranho para aqueles que me lêem.

Eu explico. Houve uma época neste país, em que o simples fato de você pensar diferente do que o governo determinava, significava que você estava sujeito a ser preso e o pior: torturado. Você seria taxado de comunista e seria castigado por ousar pensar diferente.
Alguns artistas tinham suas obras examinadas antes mesmo de tornarem-se públicas e os veículos de comunicação sofriam todo o tipo de sensura prévia. O que não estivesse “de acordo” éra vetado.

Eu sou fruto desta época. No meu tempo, não se aprendia na escola nada sobre política e sociologia. Nos ensinavam a acreditar que o sistema político vigente era perfeito e que o Brasil era o melhor lugar do mundo para se viver. Lembro-me, como se fosse hoje, que admirava o presidente Médici, talvez um dos ditadores mais duros que o nosso pais já viu. Mas éramos educados a acreditar que ele éra um sujeito formidável. No entanto, no período em que ele esteve no poder, muitos inocentes morreram nos porões, torturados. Quando eu tinha 17 anos, em 1981, fiz um intercâmbio estudantil e fui morar na Califórinia (EUA) por seis meses. Lá, juntamente com estudantes de outros lugares do mundo, fazíamos palestras em escolas, cada um falando do seu país. Quando éra minha vez de falar, eu disparava barbaridades como “no Brasil não nos preocupamos com política. Temos coisas mais importantes e prazerosas para nos preocupar…”. Eu não tinha culpa. Estava sendo educado assim. E coitado de quem resolvesse protestar.

Mas isto foi há mais de vinte anos. De lá prá cá, o Brasil transformou-se num país tão democrático que chegou ao ponto de eleger um ex-metalúrgico como presidente. Os meios de comunicação tem liberdade para criticar, comentar e denunciar a classe política.

Na contra-mão disto tudo, vem o surfe gaúcho. Exagero meu? Acredito que não. Examine comigo: Já faz alguns anos que somos torpedeados com notícias de que “nunca o surfe gaúcho esteve tão bem” ou “pela primeira vez na história do surfe gaúcho está se fazendo isto ou aquilo” ou “a maior premiação da história” e por aí vai. Quem não pode viajar para competir em outros estados, lê pouco ou não conhece o passado do surfe gaúcho corre o sério risco de viver aquilo que eu vivi há 23 anos: ficar bitolado e acreditar naquilo que estão dizendo por aí.

Quanto à sensura e o tratamento com os “reacionários”, pelo que fiquei sabendo, está igual – falta só a tortura. Depois que a última edição do Extremo Sul saiu, com a minha coluna “Sem Tesão”, a FGS saiu à caça. Impos uma série de retaliações ao jornal e, até onde sei, todas as pessoas consideradas “meus amigos” passaram a sofrer algum tipo de pressão.

Ora, se isto não é um comportamento ditatorial, então eu não sei mais nada. No lugar do diálogo, a FGS prefere enfiar a cabeça num buraco e fazer de conta que aqueles que criticam são inimigos e os que elogiam são amigos. O pior é que a minha coluna nem fazia nenhum tipo de acusação, apenas dizia que EU estava desgostoso com a situação. Vai entender…

Houve quem me acusou de “nunca ter feito nada pelo surfe gaúcho”. Eu precisaria muito mais espaço do que tenho aqui para listar tudo o que já fiz, então escolhi uma coisa que serve como prova das duas coisas (que eu fiz e que a FGS estragou):


Na foto, você me vê cercado pela cúpula da FGS, em 2001, no coquetel de lançamento do Circuito Trópico Supertrials, válido para o ranking brasileiro, organizado pela Office Marketing.

O que eu fiz: incumbido pela FGS, fui ao mercado e fechei negócio com a Office, empresa com mais de 15 anos de mercado e super competente na área de organização de eventos. O que a FGS fez: quebrou um contrato que deveria durar três anos no final do primeiro ano - que a Office havia planejado para durar três - a FGS simplesmente dispensou-a. Não há uma explicação para o ocorrido. Simplesmente, chegou à conclusão de que não precisava mais da Office. Conclusão: a Office Marketing saiu com prejuízo financeiro e com uma péssima imagem do surf e nós…bem, nós, deixa pra lá!

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