domingo, 10 de julho de 2005

Mães Más

Normalmente só escrevo e publico neste espaço, assuntos relacionados com o surfe. Na verdade nunca prometi isto. Nem pra você que me lê agora e muito menos para mim. Sendo assim, me sinto totalmente à vontade para trazer aqui um assunto novo, totalmente fora do normal neste blog.

Ocorre que sempre fui muito ligado à família e atualmente sou o "chefe" de uma. Por isso volta e meia me pego avaliando minha "performance". Faço comparações entre o que vivencio agora e aquilo que vivi ou li. Tento comparar se estou acertando com a minha filha as coisas que considerei certas na educação que recebi dos meus pais. Tento evitar com minha esposa, aquilo que julgo ser errado. Na verdade nossos pais nos ofereceram o primeiro "manual para a vida". Depois deles, vieram os livros, a escola, os amigos, a sociedade e por aí vai.

Em nossa casa, minhas irmãs e eu brincávamos chamando nossa mãe de "Cuca", numa alusão à personagem do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato - e não da Globo, como o leitor menos informado poderia pensar. "A Cuca vai pegar", brincávamos. E é verdade. A "dona" Lia, além de braba, era linha dura. Comeu, não leu, páu comeu! Apanhei muito.

Há alguns anos ela nos deixou. Faleceu vítima de um câncer que surgiu do nada, de uma hora para outra e, em dois anos consumiu-a.

Mas apesar da fama de Cuca, o que ficaram foram lembranças lindas. Lembranças de uma pessoa que foi incansável no trabalho de educar os filhos e de administrar a família. Se meu pai foi o responsável a vida inteira pelo sustento e também por ser uma espécie de "porto seguro" para minha mãe, é certo que ela, foi a principal responsável por ter criado 4 filhos do jeito que quero criar minha filha: preparando-nos para sermos cidadãos especiais, educados, honrados e principalmente, civilizados.

O texto que segue, tem tudo a ver com o que estou falando. Li este texto enxergando a dona Lia. E porque hoje sei que tudo o que ela fez por nós foi corretíssimo, quero dividir o que está escrito nele, com vocês.

Leiam e acreditem: é o segredo da boa criação. Como dizia minha mãe: educar dá muito trabalho, mas recompensa.

Mães Más
(Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra)

Um dia quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes:

Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar”.
Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci...Porque no final vocês venceram também! E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:

Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo...

As outras crianças comiam doces no café e nós só tinhamos que comer cereais, ovos, torradas.
As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço e nós tinhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.
Insistia que lhe disséssemos com quem iamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.
E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata!
Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.
Enquanto todos podiam voltar tarde tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelos menos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.

Foi tudo por causa dela!

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo o melhor para sermos “pais maus”, como minha mãe foi.

Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes mães más!

Aquelas que já são mães, que não se culpem, e aquelas que serão, que isso sirva de alerta!

Um comentário:

Anônimo disse...

Brilhante. Serve também para os "pais maus".

[]s
Dario