Por Eduardo "Gringo" Patussi
Na Páscoa de 2004 fiz uma viagem solo, sem me preocupar com outra coisa qualquer que não fosse surf e aproveitar os momentos de intervalo para refletir sobre minha vida, carreira, futuro...
Escolhi o extremo norte do Perú (ainda não conhecia a região e as ondas no Perú são realmente muito boas).
Alguns amigos já haviam me contado das vantagens de viajar só: horários, direções e outras opções: ninguém para opinar ou contrariar (nunca tive problemas em dividir ou aceitar opiniões, mas é interessante a experiência). Só que estas vantagens já me eram familiares e o que mais me impressionaou na experiência, foram outras que acabei descobrindo.
Várias vezes quando chegava em um lugar, precisava avaliar a melhor maneira de entrar no mar, observar os outros surfistas, contar as séries (perde-se um tempinho, mas aprende-se muito), às vezes optar pela maneira mais difícil porém mais segura, às vezes arriscar por uma situação mais perigosa mas com menor esforço, e às vezes perguntar para os outros sobre a melhor maneira de entrar e sair do mar, ou seja, acertar e errar sózinho, aprender a avaliar a situação.
Mas o que me impressionou mesmo foi a receptividade na água (muito diferente de quando chega-se num grupo de três, quatro ou mais). Chegava no outside e me colocava a uma distância respeitosa do pequeno (às vezes ) crowd e aos poucos - e sem pressa - ia chegando mais próximo. Imediatamente cumprimentava os demais e todos, quando possível - afinal era eu quem acabava de chegar.
Para minha surpresa em várias ocasiões fui abordado para uma conversa amigável e às vezes com um aceno convidando-me a me aproximar mais e literalmente dividir as séries. Algum desavisado ira pensar: "pô o cara fica na beirinha"... Mas não. Estou falando de point break, remadão até o "line up", séries demoradas, ondas grandes (pelo menos para nossos padrões) e longas, muito longas. Geralmente o assunto era "de onde vens", "estas só" (com ar de impressionado e respeito), etc...
Logo o assunto partia para a atitude: "onde aprendeste a encarar o pico dos outros desta maneira", etc...
As portas abriam-se ao natural, boa educação e cortesia respondidas na mesma moeda. E assim foi por todos os dias e locais da viagem. O que me fez criar um hábito (que nem sempre pratico, talvez por descuido) de cumprimentar as pessoas que já estão no mar quando chego e só chegar no pico após pegar algumas intermediárias, como também evitar de chegar com carro superlotado, pois assusta.
Sei que nesses tempos de crowd infernal nem sempre é possível cumprimentar todos (sob o risco de parecer político em campanha) ou chegar sózinho, e nem sempre é fácil chegar "no sapatinho" em nosso litoral, pois temos corrente, muitas vezes indefinição de picos, muita gente...
Ou ainda esperar a "fila" mas com certeza é o melhor para todos: o próprio recém chegado, o sujeito com cara de poucos amigos que já está ali, o sujeito que acha que todas as ondas são dele, o iniciante que insiste em ficar na frente na melhor do dia, o cara que sabe as manhas do pico, o outro que melhor preparado rema mais que golfinho, e os dentes da frente).
Um comentário:
Como é gringo, quero saber se caiu em Pico Alto 15 pés plus ....
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